sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Anita Malfatti

Anita Malfatti

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A pintora Anita Malfatti
"O que está tão engraçado aqui?" Com esta pergunta, Anita Malfatti interrompeu as sonoras gargalhadas que o escritor Mário de Andrade dava ao se deparar com os quadros "O Homem Amarelo", "A Mulher de Cabelos Verdes" e "A Boba", numa exposição da pintora, em 1917.

Nascida em São Paulo em 2 de dezembro de 1889, Anita Malfatti era filha de imigrantes. O pai, Samuel, italiano naturalizado brasileiro, era engenheiro e trabalhou em estradas de ferro e na construção civil. A mãe, Eleonora Elizabeth, era norte-americana, poliglota, pintava e desenhava.
Exerceria enorme influência na formação da filha.

Quando pequena, no entanto, sua mãe não poderia imaginar que a filha um dia iria se tornar uma das principais pintoras brasileiras. Anita sofria de uma atrofia congênita na mão direita e, aos 3 anos, foi levada para a terra natal do pai em busca de tratamento médico, sem sucesso, porém.
Mesmo assim, aprenderia a escrever, desenhar e pintar só com a mão esquerda.
Em 1910, Anita foi para Berlim, onde tomou contato com a arte expressionista alemã. Lá, frequentou a Academia Real de Belas Artes e o museu de Dresden, onde teve Lovis Corinth e Bishoff Culm como professores.
Voltou para o Brasil em 1913 e, dois anos depois, iria para os Estados Unidos. Em 1914, realiza sua primeira exposição individual, nas Mappin Stores, em São Paulo.
Ficou nos EUA cerca de um ano, onde estudou com Homer Boss no Independent School of Art (Escola Independente de Arte), berço dos primeiros trabalhos cubistas da América. Voltou novamente ao país, em 1916.
A Anita que surge destas viagens e contatos com as artes destes países é a que abrirá o caminho para o modernismo brasileiro. A exposição onde Mário de Andrade gargalhava, "Primeira Exposição de Arte Moderna no Brasil, 1917-1918", aberta em dezembro de 1917, é o começo do movimento, que eclode na Semana de Arte Moderna de 1922.
As risadas do escritor, no entanto, se transformariam em admiração, amizade e uma intensa troca de correspondências entre os dois. Anos depois, o escritor acabaria adquirindo a tela "O Homem Amarelo".
Mas a mudança de opinião do escritor paulista não seria acompanhada por outro grande nome da crítica e literatura brasileiras: Monteiro Lobato. Especialmente irritado com a obra da precursora do modernismo, Lobato publicou um artigo que se tornaria célebre: "Paranóia ou Mistificação?".
Nele, argumentava que a nova pintura de Anita não representava o brasileiro e sua natureza com fidelidade. Chegava ao ponto de insultar a pintora tachando-a de louca. Da querela que se segue, surge a divisão entre conservadores e modernos que iria desaguar na Semana de Arte Moderna, em 1922.
Depois de ir à Alemanha, Anita fez, ainda, uma segunda viagem à Europa, proporcionada por uma bolsa de estudos, mas desta vez, fixou residência em Paris.
Por não querer ser a integrante mais velha do grupo modernista, Anita Malfatti falsificou seu documento de identidade e mentiu sobre seu verdadeiro ano de nascimento. Sempre falava que havia nascido em 1896. O ano verdadeiro, entretanto, era 1889 e quando Anita morreu, no dia 6 de novembro de 1964, estava prestes a completar 75 anos.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-anita_malfatti.shtml

Di Cavalcanti

Di Cavalcanti

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque nasceu no Rio de Janeiro em 6 de setembro de 1987. Começou sua carreira artística em 1914, quando publicou ilustrações na revista "Fon-Fon".
Mudou-se para São Paulo, em 1917, para concluir seu curso de Direito iniciado no Rio de Janeiro. Foi em São Paulo que Di Cavalcanti realizou sua primeira mostra individual. Participou e foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 22.
Morou em Paris (França) entre 1922 e 1925 e conviveu com artistas como Léger, Matisse e Picasso. Retornou ao Brasil em 1925 e passou a colaborar para revistas. Durante a década de 40, colaborou também com os jornais do Grupo Folha com as colunas "Informações da Noite" e "Artes Plásticas: Resenha Semanal".
Na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, Di Cavalcanti expôs como convidado especial. Já na 2ª Bienal, recebeu, ao lado de Alfredo Volpi, o prêmio de melhor pintor nacional. Teve uma sala especial na 1ª Bienal Interamericana de Arte, no México, em 1960, e nesta mesma Bienal foi premiado com a Medalha de Ouro.
Di foi caricaturista, poeta, memorialista, desenhista, gravador, designer, muralista, grande pintor social e um trabalhador obstinado. Também era um grande contador de histórias e um emérito boêmio.
Esse paradoxo se reflete em sua arte com sua representação da sensualidade, principalmente a sensualidade da mulata brasileira e, por outro lado, o constante uso das fortes temáticas sociais.
Essa mistura de sentimentos dá a sua arte a representação de um substrato de alegria que é carregado de tristeza e tem, para Di Cavalcanti, a feição do caráter tipicamente brasileiro.

Fontes: "Almanaque Abril: Quem é Quem na História do Brasil"; editora Abril; 2000; "Dicionário de Pintores Brasileiros"; editora Spala; 1986
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-di_cavalcanti.shtml

Graça Aranha

Graça Aranha

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O escritor Graça Aranha
José Pereira da Graça Aranha nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luís, no Maranhão, filho do jornalista Temístocles da Silva Maciel Aranha e de Maria da Glória da Graça.
De família rica e culta, com apenas 13 anos já havia terminado os estudos primário e secundário e foi para o Recife estudar direito. Lá, seria aluno de Tobias Barreto, uma das mais fortes influências no jovem estudante, que em seu entender teria sido o maior dos brasileiros. Formou-se em 1886 e viajou para o Sul do país, onde se dedicou à advocacia, ao magistério e à magistratura.
Foi como juiz municipal em Porto do Cachoeiro, no Espírito Santo, em 1890, que colheu material para seu futuro romance "Canaã", publicado com grande sucesso editorial em 1902.
A cidade possuía uma comunidade alemã significativa e Aranha fez parte do julgamento de uma jovem imigrante que era acusada do assassinato do filho recém-nascido. No romance, a jovem seria materializada como Maria de Canaã, e o assassinato do filho é simbolizado na cena em que ela dá à luz no meio do mato e vê o bebê ser devorado por porcos selvagens.
Em "Canaã", Graça Aranha expõe, ainda, a vida do imigrante, na luta para se adaptar e se fixar em terras brasileiras. Denuncia as extorsões praticadas pelos poderosos, os preconceitos e o racismo.
Por essas características e por seu valor documental, o romance se destaca como o marco inicial do Pré-Modernismo, fase da literatura brasileira cuja principal proposta é a "redescoberta do Brasil" por meio da denúncia da realidade brasileira.
Ainda sem ter publicado livros, Aranha entrou para a recém-fundada ABL (Academia Brasileira de Letras) em 1897, convidado por Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Lúcio de Mendonça, como um de seus 40 fundadores. A ABL só entraria em funcionamento, no entanto, no ano seguinte.
Em 1900, entrou para o Itamarati e seguiu carreira diplomática por 20 anos. Nesse período, fora do Brasil, em missões diplomáticas por diversos países, acompanharia os rumos da arte moderna. Depois de se aposentar como diplomata, regressou ao Brasil, em 1921.
Culturalmente, 1921 significou, para o Brasil, a gestação da Semana de Arte Moderna, que aconteceria no ano seguinte. Um dos eventos marcantes é a exposição "Fantoches da Meia-Noite", que reuniu desenhos do pintor carioca Di Cavalcanti na editora O Leitor, em São Paulo.
Durante a exposição, Di Cavalcanti comentou com Graça Aranha (única adesão da geração anterior ao futuro grupo modernista) que seria interessante realizar uma mostra com trabalhos dos artistas da época. A idéia era fazer uma semana de "escândalos literários e artísticos".
A sugestão de Di Cavalcanti atraiu Aranha, que apresentou o artista plástico a Paulo Prado, membro da aristocracia cafeeira paulista. Prado foi um dos promotores da Semana de 22, que revelou a existência de um pensamento artístico ao mesmo tempo sintonizado com as vanguardas européias e preocupado em encontrar uma identidade para a arte produzida no país.
Graça Aranha ficou encarregado de inaugurar a Semana de Arte Moderna com a conferência "A Emoção Estética na Arte Moderna". Iniciou-se, então, uma fase agitada nos círculos literários do país.
Graça Aranha é considerado um dos chefes do movimento renovador de nossa literatura, fato que vai acentuar-se com a conferência "O Espírito Moderno", lida na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1924, na qual o orador declarou: "A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro". Estava rompida a ligação do escritor com a ABL.
Graça Aranha escreveu também a peça de teatro "Malazarte" (1911), o romance "A Viagem Maravilhosa" (1929) e ensaios, entre os quais "A Estética da Vida "(1920), "Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco" (1923), "Futurismo. Manifesto de Marinetti e Seus Companheiros" (1926).
Graça Aranha morreu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, deixando incompleta a autobiografia "O Meu Próprio Romance".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-graca_aranha.shtml
Manuel Bandeira

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O poeta Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em 19 de abril de 1886, em Recife (Pernambuco). Fez os estudos secundários no colégio Pedro 2º, no Rio. Em São Paulo, iniciou o curso de engenharia, que teve de abandonar devido a uma tuberculose.
À procura de um bom clima, andou em diversas partes e passou um ano em Clavadel, na Suíça. Ao regressar, estreou na literatura com "A Cinza das Horas", em 1917. Em 1922, integrou-se ao grupo que fez a Semana de Arte Moderna. Dois anos depois, em "Ritmo Dissoluto", passou a praticar a nova estética em sua poesia. Em 1930, escreveu "Libertinagem".
Em 1935, tornou-se inspetor federal de ensino. De 1938 a 1943, foi professor de literatura universal no Colégio Pedro 2º.
Em 1940, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1943, passou a ocupar a cadeira de literaturas hispano-americanas da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, permanecendo no cargo até 1956, quando se aposentou. Em 1946, recebeu o prêmio nacional de literatura. Foi também presidente da Sociedade Brasileira de Música de Câmara.
Manuel Bandeira morreu em 13 de outubro de 1968, no Rio. Ele foi um dos maiores renovadores da poesia brasileira, influenciando seus contemporâneos e as gerações seguintes.
Sua poesia permanece cativante, encantatória, envolvente e simples para os leitores, sejam eles eruditos ou não. É um poeta que como poucos, sabe trabalhar mesmo que seja com a mínima sensibilidade possível de um leitor qualquer e nela incutir, despojadamente, miríficos lugares poéticos sob o signo da simplicidade.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-manuel_bandeira.shtml

Mário de Andrade

Mário de Andrade


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O escritor Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo em 9 de outubro de 1893, e morreu, também em São Paulo, a 25 de fevereiro de 1945.
Diplomou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde foi, a partir de 1922, catedrático de história da música. Mário de Andrade também foi professor de piano, colaborador de jornais, funcionário público, escritor e poeta.
Estreou na literatura em 1917 com o livro "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema". Cinco anos mais tarde, em 1922, viria à luz sua primeira obra modernista, "Paulicéia Desvairada". É também neste ano que Mário teria uma participação fundamental na Semana de Arte Moderna, sendo considerado um de seus mentores.
Em 1925, ele deu à poética modernista uma teoria por meio da obra "Uma Escrava que Não é Isaura" e aplicou estes conceitos em seu próximo livro "Losango Caqui".
A respeito do livro "A Escrava que Não é Isaura", Mário, em seu lançamento, afirmou: "Este livro, rapazes, já não representa a minha verdade inteira da cabeça aos pés", o que demonstra que o autor acreditava ser muito mais fácil criar um conceito de arte poética do que praticá-la.
Depois disso, Mário entrou numa fase de nacionalismo estético e pitoresco, com aproveitamento da etnografia e do folclore. Dessa fase nascem o livro de poesia "Clã do Jabuti" e "Ensaio sobre a Música Brasileira".
É também nesse período que ele produz sua obra máxima, "Macunaíma", a qual foi escrita a lápis, na chácara Sapucaia, em Araraquara (SP), propriedade de 12 mil metros quadrados do primo e amigo Pio Lourenço Corrêa, entre os dias 18 e 23 de dezembro de 1926.
Atualmente, a chácara pertence à Universidade do Estado de São Paulo (Unesp).
Depois de escrito o livro, Mário afirmaria para sua amiga a artista plástica Anita Malfati que pretendia passar férias na chácara, mas "veio um saci de uma idéia para um romance na cabeça, escrevi o tempo todo, teve dias em que escrevei até duas da manhã".
Depois disso, colaborou na organização do modelar Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, do qual foi o primeiro diretor, em 1934. Durante sua gestão, Mário lutou por uma melhor educação infantil na cidade, pela divulgação artística, pela educação e pelo ensino musical, além de organizar uma discoteca pública e promover o primeiro congresso da Língua Nacional Cantada, em 1937.
Em 1938, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital federal, onde foi crítico literário e professor de estética na Universidade do Distrito Federal. Exerceu ainda o cargo de diretor do Instituto de Artes da mesma universidade, e é o autor do anteprojeto que deu origem ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Em 1940, voltou para São Paulo como funcionário do Serviço do Patrimônio Histórico. Morreu em plena maturidade criadora.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-mario_de_andrade.shtml

Menotti Del Picchia

Menotti Del Picchia

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O poeta Menotti Del Picchia
Paulo Menotti Del Picchia nasceu em São Paulo em 20 de março de 1892. Foi agricultor em Itapira, no interior de São Paulo, advogado, editor, industrial, banqueiro, deputado estadual e federal, chefe do Ministério Público do Estado de São Paulo, jornalista, poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo e primeiro diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado de São Paulo.
Fez os seus primeiros estudos no Grupo Escolar de Itapira. Iniciou, em 1903,
o curso ginasial em Campinas, de onde se transferiu para Pouso Alegre (MG). Nesta cidade, aos 14 anos, fundou o periódico "Mandu". Aos 16, já tinha escrito um romance, que, segundo ele, não passou de um "terrível pastiche do Conde de Monte Cristo".

Em 1913, formou-se advogado pela Faculdade de Direito de São Paulo. Nesse mesmo ano, lançou seu livro de estréia, "Poemas do Vício e da Virtude".
Após o término de seus estudos em São Paulo, voltou para sua cidade natal, Itapira, onde dirigiu o jornal "Cidade de Itapira" e fundou o jornal "Grito", que publicou os seus poemas "Moisés" e "Juca Mulato" e também seu romance "Laís".
Seu poema "Juca Mulato", publicado em 1917, foi de tal maneira importante que Menotti chegava a afirmar que era autor perseguido por um personagem. Depois, mudou-se para Santos, onde dirigiu o jornal "A Tribuna".
Regressou para a capital paulista, integrando definitivamente na vida jornalística da cidade, onde foi redator em diversos jornais, entre os quais "A Gazeta" e o "Correio Paulistano" e onde fundou o jornal "A Noite" e dirigiu, com Cassiano Ricardo, os mensários "São Paulo" e "Brasil Novo".
Colaborou assiduamente com o "Diário da Noite", onde por muitos anos manteve uma seção diária sob o pseudônimo de Hélios, seção que ele criara, em 1922, no "Correio Paulistano", através da qual divulgou as notícias do Movimento Modernista.
Junto a Oswald de Andrade, Mário de Andrade e outros, foi um dos líderes do movimento, participando da Semana de Arte Moderna de 1922, época em que já era considerado um poeta de prestígio.
Foi um dos mentores, junto com Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, do movimento nacionalista e literário do verde-amarelismo. Depois, com Cassiano Ricardo e Mota Filho, chefiou o movimento cultural da Bandeira.
Menotti foi eleito em 1º de abril de 1943 para a cadeira 28 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Xavier Marques. Foi recebido na ABL, em 20 de dezembro de 1943, pelo acadêmico e amigo Cassiano Ricardo.
A sua origem estética, no entanto, ainda é o romantismo, que é evidente em sua poesia pela grandiloqüência e floreios verbais. Em 1982, foi proclamado Príncipe dos Poetas Brasileiros, o quarto e último deste título, que pertenceu anteriormente a Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-menotti_del_picchia.shtml

Oswald de Andrade

Oswald de Andrade

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O escritor Oswald de Andrade
José Oswald de Souza Andrade nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890 e morreu em 22 de outubro de 1954, também em São Paulo.
Formou-se em direito em 1919. Publicou seus primeiros trabalhos
no semanário paulista de crítica e humor intitulado "O Pirralho",
que ele mesmo havia fundado em 1911.
O semanário o tornou conhecido como um escritor combativo e polemista.

Em 1920, fundou o jornal "Papel e Tinta".
Oswald foi, junto de Mário de Andrade, um dos principais responsáveis pela Semana de Arte Moderna de 22, ano em que publicou "Os Condenados" (de a "Trilogia do Exílio").
Sobre sua vida de homem de letras, o próprio Oswald afirmou certa vez: "Literariamente, minha carreira foi tumultuosa. Pode-se dizer que se iniciou com a Semana de Arte Moderna em 1922. Publiquei, então, 'Os Condenados' e 'Memórias de João Miramar'. Descobri o poeta Mário de Andrade, do que muito me honro. Iniciei o movimento Pau-Brasil, que trouxe à nossa poesia e à nossa pintura sua latitude exata. Daí passei ao movimento antropofágico, que ofereceu ao Brasil dois presentes régios, 'Macunaíma', de Mário de Andrade e 'Cobra Norato', de Raul Bopp. O divisor de águas de 1930 me jogou do lado esquerdo, onde me tenho conservado com inteira consciência e inteira razão".
O movimento Pau Brasil se deu em 1924 e o Movimento Antropofágico em 1928. Ambos tiveram a divulgação do programa estético feito por Oswald.
Filiou-se ao PCB, em 1930, após a revolução, e rompeu com o mesmo em 1945. Continuou, porém, sendo de esquerda.
Em 1931, quando dirigia o jornal "O Homem do Povo", foi várias vezes detido. Em 1939, representou o Brasil no Congresso dos Pen Clubes realizado na Suécia. Foi o orador do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Prestou concurso para a cadeira de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP com a tese "A Arcádia e a Inconfidência". Obteve o título de livre-docente, em 1945.
Oswald foi panfletário, polemista, crítico, ensaísta, romancista, contista e poeta e foi também, sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais desconcertantes da literatura brasileira. Sua arte, segundo Roger Bastide, "não é uma arte de análise, mas uma arte de síntese, de construção poética".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-oswald_de_andrade.shtml

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral

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A pintora Tarsila do Amaral
"Quero ser a pintora da minha terra."

Foi assim que Tarsila do Amaral definiu uma vez sua ambição nas artes do Brasil. E é assim que, hoje, o seu trabalho é reconhecido. Uma das principais artistas modernistas brasileiras, Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, em Capivari (São Paulo), no casarão da fazenda São Bernardo.
De tradicional e rica família de fazendeiros paulistas, filha de Lydia Dias do Amaral e José Estanislau do Amaral Filho, Tarsila estudou em São Paulo, no tradicional colégio Sion, e depois, em 1902, no colégio Sacré-Couer, em Barcelona (Espanha).
Em 1904, fez sua primeira viagem a Paris (França), cidade que seria fundamental na sua formação artística.
Voltou ao Brasil em 1906 e se casou com André Teixeira Pinto, primo de sua mãe, com quem teve sua única filha, Dulce.
Tarsila começou seus estudos de pintura em 1917, com o acadêmico Pedro Alexandrino. Três anos depois, após estudar escultura, desenho e pintura com diversos artistas brasileiros, voltou à Europa com a filha.
A menina ficou interna no Sacré-Couer de Londres (Inglaterra) e Tarsila fixou residência em Paris. Lá, cursou a Academia Julian, tomou contato com as vanguardas européias e frequentou os ateliês dos cubistas André Lhote, Fernand Léger e Albert Gleizes.
O primeiro casamento acabou nessa época, devido ao ciúme do marido.
De volta ao Brasil, em junho de 1922, Tarsila manteve contato com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, com os quais formou o chamado "Grupo dos Cinco", grupo responsável pelo início do modernismo no país.
No ano seguinte, casou-se com Oswald de Andrade. Ainda em 1923, pintou o quadro "A Negra", que se aproximava do cubismo e era considerada a primeira manifestação do que viria a ser o movimento Pau-Brasil.
Voltou a Paris e frequentou com Oswald o circuito artístico local, mas convenceu mais por sua beleza que por sua arte. "Bem curiosa essa belíssima fêmea brasileira que pretende pintar negros monstruosos com cores suaves", escreveu o pintor futurista italiano Luigi Russolo a uma amiga.
Em 1928, Tarsila pintou aquela que se tornaria sua mais conhecida obra, "Abaporu". A tela, um presente para o seu então marido, foi entregue na data de aniversário de Oswald, 11 de janeiro, ainda sem nome. Extasiado com a beleza da tela, Oswald chamou seu amigo modernista Raul Bopp e, folheando um dicionário de Tupi de Tarsila, encontraram o nome que batizou a tela e que significa "o homem que come carne". O quadro, mais próximo do surrealismo, é considerado um emblema do movimento antropofágico brasileiro.
O casamento com Oswald terminaria em 1930, quando ela descobriu que ele a traía com Patrícia Galvão, a feminista Pagú. Depois, se casou com um médico que a iniciou nas hostes do Partido Comunista -Tarsila chegou a passar um mês na cadeia por ter feito uma viagem à Rússia. Por último, Tarsila casou-se com um jovem crítico de arte, 20 anos mais novo que ela.
Tarsila foi também escritora. Suas primeiras crônicas para os "Diários Associados" datam de 1936. À época, a pintora lutava para reaver a fazenda da família, hipotecada por causa do crack de 1929, e contra as dificuldades financeiras resultantes. Ela manteria a atividade por 20 anos.
No fim da vida, acometida por um câncer e presa à uma cadeira de rodas por problemas na coluna, mantinha-se entretida estudando grego antigo e recitando poesias. Morreu, por complicações do câncer, em 17 de janeiro de 1973 e foi enterrada de vestido branco, como era seu desejo.
Em 1995, o colecionador argentino Eduardo Constantini arrematou, em leilão, a tela "Abaporu" por US$ 1,3 milhão, na Christie's, casa de leilões de Nova York (EUA). É até hoje o valor mais alto pago por uma obra de arte brasileira.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-tarsila_do_amaral.shtml
do Banco de Dados

Villa Lobos

Villa-Lobos

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O músico Villa-Lobos
Figura incontestável da história da musica brasileira, o compositor Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de março de 1887.
Perdeu o pai ainda jovem e, por causa disso, sua mãe, dona Noêmia, teve de trabalhar duro para sustentar a família. A drástica mudança de uma vida estável para uma vida difícil deu a Villa-Lobos uma grande liberdade. Tratou de aproximar-se de seu ídolos, os "chorões", músicos que tocavam chorinho no Rio. Pagava-lhes, sempre que podia, uma dose de pinga, que era financiada por meio da venda dos livros da biblioteca de seu falecido pai.
Durante sua mocidade, Villa-Lobos conheceu e tornou-se grande amigo do pianista polonês Arthur Rubinstein. Os dois encontraram-se pela primeira vez em um Carnaval. Rubinstein, vestido de mulher, fez amizade com Villa-Lobos, que enrolara uma cobra de verdade no pescoço, e foram, os dois, brincar o carnaval. Acabaram na delegacia de polícia.
Como dona Noêmia não abria mão de ver seu filho no curso de medicina, Villa-Lobos acabou se matriculando no curso de preparação para o exame vestibular de medicina, obedecendo as vontades de sua mãe. Porém, o jovem, acompanhado da sabedoria que seus 16 anos de vida lhe garantiam, não queria aquela história para sua vida. Fugiu de casa e foi refugiar-se na casa da tia Fifina, para ter maior liberdade para frequentar os chorões e tocar em pequenas orquestras.
Villa-Lobos fez isso dos 18 aos 26 anos. Viajou pelo Brasil se apresentando como músico e teve um contato cada vez mais intenso com o folclore brasileiro. É nesse período que compôs "Amazonas" e "Uirapuru".
Depois desse período de andanças pelo Brasil, Villa-Lobos retorna ao Rio, em 1913, e sua obra começa a avolumar-se com as composições de "Cânticos Sertanejos", "Brinquedo de Roda", "Sonata Fantasia nº 1" e as óperas "Aglaia" e "Elisa".
O passo seguinte na carreira de Villa-Lobos foi a sua importante atuação na Semana de Arte Moderna de 22, em que promoveu as primeiras apresentações de suas obras. Apresentou, no dia 13 de fevereiro, a "Segunda Sonata", o "Segundo Trio" e a "Valsa Mística", o "Rondante", "A Fiandeira" e "Danças Africanas". No dia 15, "O Ginete do Pierrozinho", "Festim Pagão", "Solidão", "Cascavel" e "Terceiro Quarteto". No dia 17, "Terceiro Trio", "Historietas", "Segunda Sonata", "Camponesa cantadeira" e "Num Berço Encantado".
Em 30 de junho de 1923, Villa-Lobos embarcou no navio francês Croix, deixando o Rio com destino à Europa. Sua viagem não foi para estudar ou aperfeiçoar-se, mas para exibir o que já havia produzido. Não agiu como a maioria do brasileiros, que voltam vaidosos de seus estudos. Villa-Lobos chegou à Europa com a cabeça feita e se impôs em menos de um ano. Nenhum outro autor estrangeiro vindo de um país como o Brasil daquela época teve tanto sucesso em Paris como Villa-Lobos.
Ao voltar ao Brasil, em 1930, Villa-Lobos já era um músico em plena maturidade, consciente de seu valor e autor de uma bagagem equivalente à produção total de muitos artistas. Nesse mesmo ano, fez uma turnê pelo país, percorrendo 66 cidades, além de ter organizado a Cruzada do Canto Orfeônico, no Rio.
Nos anos seguintes, teve uma importante atividade como educador e divulgador musical. Uma de suas contribuições foi a criação da Orquestra Villa-Lobos. Foi também Secretário da Educação Musical no governo Getúlio Vargas e tornou obrigatório o ensino de música nas escolas.
Em 1945, Villa-Lobos, criou, no Rio, a Academia Brasileira de Música e foi seu primeiro presidente. Dois anos depois, é convidado para ir aos EUA, afim de escrever, junto com os libretistas Forrest e Wright, a opereta Magdalena.
Morreu em 17 de novembro de 1959, no Rio, vítima de uma crise de uremia viria

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2002/semanadeartemoderna80/personalidades-villa_lobos.shtml
do Banco de Dados

domingo, 8 de novembro de 2009

Macunaíma

Macunaíma:uma valorização da cultura nacional


Artigo de Lucianne Chociay: Algumas Impressões Sobre o Tema: “Macunaíma e as Teorias da História”. Para http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/c00003.htm
Blog de turma : imagens nossas, MACUNAÍMA: uma valorização da cultura nacional1


Para fazer esta memória a primeira coisa que procurei foi saber o que era uma memória e encontrei num livro esta definição: “é a relação escrita de fatos ou acontecimentos passados, dos quais o autor foi protagonista.” E creio que possuo maior liberdade em expor as minhas descobertas e curiosidades que surgiram durante estes dois meses de curso. Confesso que nas primeiras aulas quando você falou que Macunaíma era um plágio — se é que isso se pode dizer — de uma série de lendas, inclusive de uma registrada por Koch Grümberg, eu fiquei muito ressabiada: “será que ele está falando de Mário de Andrade, o nosso grande modernista”? Com o andamento das aulas percebi que isto era verdade, no entanto, não desmerece a obra. Mário de Andrade quer dar ao povo brasileiro, através das crenças e mitos que aqui povoam, a autoria do livro. Ele quer tanto uma obra quanto uma cultura realmente brasileiros. Começo expondo agora as minhas impressões sobre o assunto, falando do Romantismo que é onde tudo começa. O Romantismo foi uma revolução num amplo sentido. É nele que a concepção de mundo e as atitudes que se tomam diante dele passam a ser distintas das que marcaram os séculos anteriores. O final do século XVIII é marcado pela dissolução de várias aristocracias governantes, através de revoluções, que mudaram os valores na literatura que até então então eram exprimidos na tragédia e em outros gêneros clássicos. Isto teve grande influência da Revolução Industrial, principalmente na Inglaterra e Alemanha, países onde o romantismo começa dominar o cenário cultural. O Romantismo traz para a literatura a noção do progresso indefinido na humanidade e da relatividade, e da evolução da civilizações. Idéias estas retomadas por Mário de Andrade em Macunaíma, principalmente com as leituras de Herder e Spengler. Há o desenvolvimento da nacionalidade, eleva-se o gosto pelas tradições locais, pela poesia popular, pela história e pela literatura da Idade Média. A palavra romântico vem das semelhanças com os romances da Idade Média. O Romantismo quer o retorno ao passado, onde a era medieval tem a seu favor o ambiente misterioso e transcendental que a caracteriza, o da identificação com as origens da nacionalidade. No Brasil, a exaltação do índio por José de Alencar – O Guarani. Vemos no subjetivismo uma não preocupação com os modelos a seguir, há uma total liberdade para escrever, o que também ocorre no Modernismo, uma liberdade estética; no reformismo uma proposta de reformar o mundo como nos poemas de Castro Alves ligados a uma problemática abolicionista, uma preocupação com o social, com o povo; no sonho pela aspiração por um mundo melhor, representado por símbolos e mitos, como em Macunaíma com as lendas de nosso folclore; na natureza como elemento de ligação ao homem. No Romantismo há uma mistura de gêneros literários. Ele quer se libertar das normas clássicas, mesclando os gêneros, criando novos e assim desaparecendo o espírito sistemático e absolutista que dominava as artes, devido às mudanças ocorridas no período. Pela primeira vez a literatura deixa a elite para a chegar ao povo, sendo isto o que Mário de Andrade mais quis que acontecesse com Macunaíma e com a cultura brasileira. Formas conceituadas como a ode, a canção, a elegia, perderam o seu significado antigo, dando lugar à formas novas como a poesia lírica e o poema, com a ressalva de que não se teve uma ampla libertação como chegaram os modernos, mas existe uma diferença: já não se prende as normas e preceitos rígidos. O Romantismo é tão importante para a nossa literatura que ressaltaremos agora alguns aspectos peculiares ao nosso ambiente: traduziu-se numa forma peculiar de indianismo, o sentimento nativista brasileiro fez do índio e sua civilização um símbolo de independência espiritual, política, social e literária. A inspiração em elementos nacionais aconteceu num Brasil recém-independente, em plena fase de afirmação de sua personalidade como nação. O caráter original de criatividade está na compreensão da literatura popular, daí o interesse pelos mitos e civilização indígena e a expansão de estudos sobre o nosso folclore — tão valorizados no Modernismo. Consolidou-se a poesia em nossa terra, libertando-se das normas clássicas dos escritores portugueses e com a preocupação com uma língua nacional, que Mário de Andrade tanto quis com suas obras. Foi com o Romantismo que o Brasil ganhou literatura própria. Tive essa impressão da importância da influência do Romantismo na formação da cultura brasileira, pois é neste período que primeiro se fala em uma língua nacional, nas nossas lendas, no nosso folclore, incentivando o Brasil a pensar em suas raízes. Estas idéias são retomadas no Modernismo, são valorizadas com uma outra significação influenciado principalmente pelo grau de evolução, e também evolução industrial, conquistado pelo país. Daremos um salto do Romantismo até o Modernismo e não me atenho a falar do Realismo e outros movimentos que antecederam ao movimento moderno para não me distanciar do tema central que é vincular Macunaíma à teorias históricas. No período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX aconteceram profundas transformações na sociedade brasileira. Estamos na transição dos ciclos do açúcar e do café, e este agora cresce e quer a abolição dos escravos que estavam nos engenhos de açúcar. Depois de muito tentarem, e já dando início à imigração, a abolição é decretada em 1889, e o café ganha força na economia brasileira, com grandes cafeicultores como Paulo Prado, e já representa 90% da produção mundial. A literatura começa a se desenvolver embasada pela oligarquia cafeeira. Com dinheiro o país se desenvolve e com os imigrantes ele se industrializa, formando uma nova, e em ascensão, burguesia urbana industrial. Macunaíma é escrito nesta época e é sentido no livro as influências da situação econômica e cultural do Brasil, como o conflito entre Macunaíma e Wenceslau Pietro Pietra, o gigante Piaimã. Macunaíma representa o povo brasileiro lutando para sobreviver e o gigante Piaimã é o estrangeiro que quer abocanhar o Brasil. Na vida real, a burguesia industrial ganhará a disputa com a queda da bolsa de Nova York que faz despencar o preço do café e assim, a oligarquia cafeicultora perde o poder econômico. Em Macunaíma, o gigante Piaimã morre afogado numa macarronada e não vai para o campo vasto do céu, onde reside a tradição brasileira. Situa-se a Semana de Arte Moderna no meio da disputa café/indústria. A indústria é a máquina, o progresso, é o avanço tecnológico. As mudanças são rápidas e a velocidade comanda a sociedade e gera uma ânsia pela novidade, o novo é sempre melhor. A sociedade nova necessita uma literatura nova, como nos diz Oswald de Andrade “Estamos atrasados de 50 anos em cultura, chafurdados em pleno parnasianismo ”ou Graça Aranha “A nossa literatura está morrendo de academicismo. Não se renova. São os mesmos sonetos, os mesmos romances, os mesmos elogios, as mesmas descomposturas que ouço desde os tempos da Fundação da Academia”. O Brasil recebe influências do futurismo, do cubismo, do dadaísmo, do surrealismo, do impressionismo, que na semana de 22 se traduz em renegar o passado, o hieratismo parnasiano, a linguagem clássica, o academicismo, o tradicionalismo. O Modernismo quer criar uma consciência criadora nacional. Mário de Andrade prega a liberdade da pesquisa estética, a renovação da poesia, e principalmente, como é visto em Macunaíma, a criação de uma língua nacional. Macunaíma é um personagem que representa o povo brasileiro e todas as suas peculiaridades, boas ou más. O “herói de nossa gente”- herói pois nasce de mãe virgem. O herói passa por uma série de intempéries no decorrer do livro que representam as dificuldades e os sofrimentos que o povo brasileiro enfrenta na vida. E como brasileiro sempre o herói sempre dá um “jeitinho” e consegue escapar de suas safadezas. Macunaíma é um retrato do Brasil. Assim como José de Alencar em seus romances, Mário de Andrade quer mapear o Brasil e se utiliza do folclore como ferramenta para mostrar as raízes brasileiras, os seus costumes e suas crenças.

Herder aproxima o homem de Deus. Essa aproximação seria causa única da existência dos homens na Terra. Nasceríamos com essa finalidade que era reencontrar o nosso criador. A natureza é a vontade de Deus. A natureza é que molda o homem, portanto em cada ambiente surgirá uma cultura diferente, e no Brasil surgirá Macunaíma.

Blog de turma : imagens nossas, MACUNAÍMA: uma valorização da cultura nacional2
Cartaz do filme em francês

História do homem:

Geografia + Raça + Cultura

Blog de turma : imagens nossas, MACUNAÍMA: uma valorização da cultura nacional3
Cartaz do filme

Em cada lugar surgem culturas diferentes pois existem os mais variados meios que moldam cada um uma raça com características próprias. A geografia do Brasil molda Macunaíma (e todo brasileiro) dando as particularidades de nossa raça e da nossa cultura. Cada brasileiro tem um pouco de Macunaíma. Uma das maneiras aonde percebo isto é quando Macunaíma vai delineando as nossas crendices e ditados populares. E Macunaíma simboliza o povo brasileiro, e consequentemente este é autor dos seus provérbios.

E como acaba

o povo brasileiro?

É aí que entram as

teorias de Spengler.

Blog de turma : imagens nossas, MACUNAÍMA: uma valorização da cultura nacional4
Obra de Ademir Martins

Para Spengler não existem histórias universais, existem histórias nacionais, e dentre estas somente algumas se tornam civilizações.

Uma sociedade é inicialmente rural. A cultura se desenvolve com a técnica e atinge sua maturidade desenvolvendo uma civilização. O surgimento da indústria, da máquina, levaria esta civilização a decadência e por fim à morte. A inteligência leva à decadência. E a grande pergunta de Macunaíma é essa: O Brasil chegará a ser uma civilização?

Macunaíma sempre se vira nas suas safadezas e no final se “enche da vida”: “Então Macunaíma não achou mais graça nesta terra. (...) Tudo o que fora a existência dele apesar de tantos casos tanta brincadeira tanta ilusão tanto sofrimento tanto heroísmo, afinal não fora sinão um se deixar viver (...) Quando urubu está de caipora o debaixo caga no de cima, este mundo não tem jeito mais e eu vou pro céu”.

Antes disso Macunaíma perde definitivamente a Muiraquitã que é engolida por um jacaré gigante chamado Ururau, que mostra que não sabemos o que acontecerá com a nossa cultura, não sabemos se um dia chegaremos a nos tornar uma civilização. A narrativa acaba com a extinção de todos os Tapanhumas e será que isso irá acontecer com o brasileiro?

“O brasileiro não possui caráter porque não possui nem civilização própria” (a cultura é comida pelo monstro Ururau)” nem consciência tradicional ”(Macunaíma vai para o campo vasto do céu e a tribo Tapanhumas é extinta e só fica o papagaio para contar a história do herói de nossa gente para Mário de Andrade). O herói hesita e Mário de Andrade sabe disso e também não sabe o que acontecerá com o Brasil e nem quer julgar. O futuro da nação fica em aberto.

Macunaíma é escrito numa época em que a oligarquia cafeeira está perdendo o lugar para a burguesia industrial, para a máquina, para o novo, para o progresso, para o futuro incerto.

É nesta época que se instaura a revolução industrial no Brasil. Estas transformações na economia e na sociedade são percebidas no livro. Wenceslau Pietro Pietra rouba a muiraquitã de Macunaíma e então tem início o conflito: a perda para a civilização da máquina. No fim da narrativa, Macunaíma perde de novo a muiraquitã que “é engolida pelo monstro Ururau que não morre com timbó nem com pau ”.

Entendo isso como um não saber o que acontecerá com a cultura brasileira. Se a nossa cultura é engolida por um jacaré gigante que não morre, significa que a cultura sobreviverá, mas não sabemos se um dia nos tornaremos uma civilização, como no esquema de Spengler.

Macunaíma revela a preocupação de Mário de Andrade em valorizar uma cultura nacional, do nosso povo e para ele, na obra ele quer que nós também valorizemos o Brasil e que não deixemos a nossa cultura ser massacrada por outra e, assim, chegaríamos a condição de civilização. Mário de Andrade busca inspiração no Romantismo, nas teorias de Herder e de Spengler, na sua consciência de Brasil para integrar o herói de nossa gente, o brasileiro.


Fonte: http://pre-vestibular.arteblog.com.br/54566/MACUNAIMA-uma-valorizacao-da-cultura-nacional/

terça-feira, 27 de outubro de 2009

DISCUTIDA AINDA EM NOSSOS DIAS, COMPLETA 40 ANOS A "SEMANA DE ARTE MODERNA"

Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1962



Sem nenhum outro intuito que não o de combater os conservadores da epoca e de criar alguma coisa de novo nas varias manifestações artisticas, eclodia em São Paulo, há 40 anos, movimento ainda hoje discutido e que logo depois de iniciado teve grande repercussão —a "Semana de Arte Moderna".
Durante 8 dias —de 9 a 16 de fevereiro de 1922— o Teatro Municipal serviu de palco aos jovens intelectuais, então chamados de "futuristas", que, inconformados com o academismo reinante na literatura, na musica e nas artes plasticas, resolveram abrir trincheiras em busca de um movimento renovador. E o conseguiram, não obstante a ferrenha oposição de muitos, conforme registram cronicas, noticias e outras publicações da epoca. O grupo vanguardista - Graça Aranha, Mario de Andrade, Osvald de Andrade, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Renato de Almeida, Ribeiro Couto e Guilherme de Almeida, na literatura; Vila-Lobos, na musica; Anita Malfati, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, John Graz, Ferrignac, Ian de Almeida Prado e Martins Ribeiro, na pintura; Victor Brecheret e W. Haerberz, na escultura; e Antonio Moya e George Przrember, na arquitetura —permaneceu unido, resistindo às investidas dos que chegaram a classificar o movimento como sendo de "loucos" e de "irresponsaveis". E foi graças a esse elo que a "Semana de 22" alcançou o objetivo visado: despertar a consciencia dos artistas em formação ou veteranos para a grande batalha —a da renovação das artes.


Anita, a pioneira

— "O que eu penso da "Semana de 22"? Foi alguma coisa de inesquecivel, que sacudiu os meios artisticos de todo o país. E mais do que justo, porque era realmente impossivel tolerar-se o academismo, a inercia, o mau-gosto da epoca. Alguma coisa tinha de ser feita. Assim, eu me orgulho de ter contribuido com uma parcela para o exito do movimento" —são expressões da pintura Anita Malfatti, apontada como a pioneira da arte moderna no Brasil. Repousando em sua casa de campo, no municipio de Diadema, a artista —que estudou na Alemanha e frequentou os grandes ateliês da França, Italia e dos EUA— revela que a "Semana de 22" foi o que houve de mais combatido na epoca. —"Mas o nosso grupinho —salienta— manteve-se despreocupado e com isso nos impusemos". A titulo de curiosidade, ela informa que era comum encontrarem colados atrás dos quadros expostos no saguão do Teatro Municipal "bilhetinhos desaforados e alguns até inconvenientes".


Contra o abstrato

Enquanto mostra ao reporter algumas das numerosas pinturas que ainda conserva, a artista paulistana assinala que, embora o movimento de 1922 visasse mudança do panorama artistico, no tocante à pintura, jamais se pensou que poderia descambar para o grau de abstracionismo que hoje se verifica. — "O que mais estranho não é propriamente a repetição que se nota na quase totalidade dos artistas abstracionistas, pois isso se transformou num fenomeno universal, mas sim o fato de o Brasil ser riquissimo em temas autoctones —e tão poucos artistas os aproveitam com categoria. Com isso, à exceção de uma minoria que luta pela autentica arte nacional —e eu me sinto incluida entre eles— a maioria não faz outra coisa senão repetir, nada criando. Uma das causas que está a provocar essa situação é a influencia comercial: porque a preocupação de muitos artistas é a de apenas vender, deixando para segundo plano a arte em si, a pesquisa".

Ainda procurando

Anita Malfatti diz que ela própria continua procurando resolver o problema da autentica arte nacional. Seus quadros não a desmentem; os temas regionais ali sempre estão presentes. Não faltam em suas pinturas festas da roca, gente do campo, orações entre caboclos, comemorações juninas etc. A artista ainda hoje pinta, embora sua primeira exposição, na rua Libero Badaró, em 1917, causasse escandalo pelo "modernismo" de suas linhas. Sentada numa cadeira de balanço, Anita traça figuras, casas, arvores, balões de São João, santos e meninos de cor esqualida com a mesma disposição e dedicação de há meio seculo —garante a pintora. — "O dia em que eu parar de pintar pode anotar, eu morro" —diz Anita com os olhos bem abertos. Ela gostaria (e tem fé mesmo) de viver como a "Grandma" Moses, celebre pintora norte-americana falecida há poucos meses, com 101 anos: lidar com sua arte até o ultimo sopro de vida.

Di: sem definição

Outro "sobrevivente" do movimento de reação é o pintor carioca Emiliano Di Cavalcanti. A pergunta como definiria a "Semana" após quatro decadas de sua realização, respondeu: — "Cabe aos criticos definir, passados os 40 anos, a realização artistica de 1922 e suas consequencias. Nunca pude definir precisamente o que foi a "Semana" e como ela atua dentro de mim mesmo. Só sei senti-la que é diferente. Sinto-a como motivo categorico de afirmação na minha personalidade, de moço turbulento e afirmação que me ensinou a perseverar nos motivos que me levaram a realizá-la". Di, que já completou 65 anos (45 de pintura), resguarda em suas obras as seguintes "marcas registradas": a) Luta pela liberdade de expressão; e b) sentimento nacional. Sua opinião é de que a "Semana" abriu um novo caminho na arte, "desafogando o transito na velha estrada do academismo".

Para libertar

Artista dos mais apreciados e discutidos, Di Cavalcanti - que certa vez disse de si: "Eu sou escritor, poeta bissexto e caricaturista" —fala depois sobre as consequencias do movimento de 1922, de maneira especial quanto à influencia da "Semana" no aparecimento de numerosos artistas abstratos. — "Conheciamos os movimentos não formalistas das artes na Europa, cujas primeiras manifestações já datavam de alguns anos. Mas o nosso movimento não tinha por finalidade indicar caminhos ou trilhar determinada escola de arte. A finalidade era libertar o artista de um atraso academico. Se os artistas brasileiros ou estrangeiros, habitando o Brasil, são atualmente na maioria abstracionistas, é porque mediocremente apegam-se a um novo academismo, demonstrando não possuirem o espirito que dominou a "Semana de 1922".


Arte brasileira


— E existe em consequencia da "Semana de Arte Moderna" a autentica arte brasileira? "É um absurdo —diz o artista— perguntar, se num país como o Brasil, se há arte autenticamente brasileira, tratando-se da arte como fenomeno cultural." Para melhor compreensão do seu ponto de vista, acrescenta: — "Toda tendencia cultural no Brasil é uma procura de aproximação com o pensamento europeu. Nosso problema de desenvolvimento cultural é o de alcançar o nivel das altas culturas européias, como para a Renascença foi atingir o nivel superior do pensamento greco-latino. Ser autenticamente brasileiro, em arte, é assimilar o conhecimento ao sentimento, é desenvolver a aquisição cultural, dentro do quadro das realizações propriamente nacionais." Di Cavalcanti pode ser assim "pintado": 1) acha que nasceu pintor; 2) escreveu "Viagem de Minha Vida", em 2 volumes; 3) admite que sofreu influencia da escola de Paris, onde plasmou sua formação estetica; 4) procura ser "acima de tudo Di Cavalcanti"; 5) gosta demais de poesias, especialmente de Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Carlos Drumond de Andrade, Cassiano Ricardo, Frederico Schimidt e João Cabral; 6) sua primeira exposição foi em 1916, no Rio, no Salão dos Humoristas.

Emancipação das artes


Como testemunha da "Semana de Arte Moderna", o intelectual, critico e divulgador das artes plasticas Paulo Mendes de Almeida deu este depoimento: "A "Semana" constituiu primeiro movimento coletivo no sentido da emancipação das artes e da inteligencia brasileiras. Naqueles dias agitados de 22, concertos, conferencias, recitativos, bailados e uma exposição de artes plasticas compuseram o programa do certame, que teve por sede o Teatro Municipal, e tudo se passou entre vaias, protestos, discussões e turbulencias, nas noites quietas da então pacata cidade".
Após citar os nomes daqueles que sacudiram o academismo então reinante, sugere a transcrição de breve depoimento de Mario de Andrade, ao lhe ser perguntado: - quem teve a idéia da "Semana"? O texto do autor de "Macunaima" tem este começo:

"Quem teve a idéia da Semanas de Arte Moderna? Por mim não seu quem foi, nunca soube, só posso garantir que não fui eu. O movimento, alastrando-se aos poucos, já se tornara uma especie de escandalo publico permanente. Já tinhamos lido nossos versos no Rio de Janeiro; e numa leitura principal, em casa de Ronald de Carvalho, onde tambem estavam Ribeiro Couto e Renato de Almeida, numa atmosfera de simpatia, "Paulicéia Desvairada" obtinha o consentimento de Manuel Bandeira, que em 1919 ensaira os seus primeiros versos livres no "Carnaval". E eis que Graça Aranha, celebre, trazendo da Europa a sua "Estetica da Vida", vai a São Paulo, e procura nos conhecer e agrupar em torno de sua filosofia. Nós nos riamos um bocado da "Estetica da Vida" que ainda atacava certos modernos europeus da nossa admiração, mas aderimos francamente ao mestre. E alguem lançou a idéia de se fazer uma semana de arte moderna, com exposição de artes plasticas, concertos, leituras de livros e conferencias explicativas. Foi o proprio Graça Aranha? Foi Di Cavalcanti?... Porem, o que importava era poder realizar essa idéia, alem de audaciosa, dispendiosissima. E o fator verdadeiro da "Semana de Arte Moderna" foi Paulo Prado. E só mesmo uma grande figura como ele e uma cidade grande mas provinciana como São Paulo poderiam fazer o movimento modernista e objetivá-lo na "Semana". Paulo Mendes de Almeida assevera que, pelas afirmações de Mario de Andrade, foi um pouco de cada um daqueles reformadores que ajudaram a objetivação de uma idéia logo aceita. Frisa, contudo: - "Não devemos fiar-nos na modestia com que Mario de Andrade omite sua propria e importante contribuição".

O mais importante

Para Paulo Mendes de Almeida o mais importante não é apurar quem teve a idéia da realização da "Semana", mas diagnosticar o que o movimento pretendia, o que representava, o que alcançaria. Para tanto, esclarece que não será tarefa facil. Diz: — "Em primeiro lugar, era o que pudesse haver de mais heterogeneo, quando aspirava a ser principalmente heteroclita (que se desvia das regras da arte), como proclamavam os mais afoitos. Nela, se pode dizer, somente num ponto houve uma quase unidade ideologica: o da necessidade de mudar. De mudar, sem que se precisasse bem o que, nem para onde. Foi isso o que lhe deu o carater eminentemente destrutivo, sendo sob esse aspecto, de resto, que ela ganha para nós extraordinaria importancia. Porque o ideario mesmo era o que de mais vago se possa imaginar. Verdade é que constituia quase uma constante o sentimento nacionalista, o desejo de redescobrir, ou melhor, de descobrir afinal o Brasil. Na realidade, não conseguiram fazê-lo, pois que somente mais tarde o Brasil nos seria efetivamente desvendado, pela equipe de homens da geração de 1930, numa tarefa a que o sr. Gilberto Freire veio dar explicação, consciencia e conteudo em termos de sociologia."

Enfim, após outras considerações Paulo Mendes de Almeida afirma que se sentia à vontade para afirmar que, não obstante todas as suas falhas, a "Semana de Arte Moderna" constituiu evento da maior relevancia. — "O movimento já não era um gesto isolado de rebeldia que presenciavamos, mas um clamor em coro, um movimento de grupo, em que se integravam importantes personalidade, e que deu, positivamente, um safanão naquele adormecido em berço esplendido Brasil das letras das artes e do pensamento."
Fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/semana13.htm

sábado, 10 de outubro de 2009

Modernismo



A LITERATURA DOS CONQUISTADORES
A SEMANA DE ARTE MODERNA

ANTECEDENTES NACIONAIS


Por volta de 1912, Oswald de Andrade, recém-chegado da Europa, começa a divulgar, através de jornais paulistas, as novas correntes estéticas européias, principalmente as idéias futuristas de Marinetti. Mas, a rigor, essas idéias não encontram grande receptividade a não ser em grupos reduzidos de jovens intelectuais, ainda sufocados pela linguagem anacrônica da arte dominante.
A exposição de Anita Malfatti
Em 1917, depois de Estudar na Europa e nos Estados Unidos, Anita Malfatti retorna ao Brasil e realiza uma mostra de seus quadros em São Paulo. Com uma técnica de vanguarda, a sua pintura surpreende o público, acostumado com o realismo acadêmico, trivial e sem ousadia. pictórico. Mas, em geral, as reações são favoráveis até que Monteiro Lobato, crítico de artes de O Estado de São Paulo, escreve um artigo feroz intitulado Paranóia ou mistificação, no qual acusa toda a Arte Moderna:
(A Boba)

Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas(..) A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...) Embora eles se dêem como novos, precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação.(...) Essas considerações são provocadas pela exposição da senhora Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.
A reação da elite paulistana, que confiava cegamente nas opiniões e gostos pessoais do autor de Urupês, é imediata: escândalo, quadros devolvidos, uma tentativa de agressão à pintora, a mostra fechada antes do tempo.
O artigo demolidor serve, entretanto, par que os jovens "futuristas" brasileiros, até então dispersos, isolados em pequenos agrupamentos, se unam em torno de um ideal comum: destruir as manifestações artísticas que remontavam ao século XIX, especificamente, no caso da literatura, o parnasianismo poético, medíocre e superado. Neste sentido, a exposição de Anita Malfatti funciona como estopim de um movimento que explodiria na Semana de Arte Moderna.
(O Farol)










Quatro estréias promissoras
Ainda em 1917, são editados livros de poemas de quatro jovens autores. Percebe-se neles o quão forte era a herança parnasiana, e mesmo a simbolista ou a romântica, mas se pode vislumbrar também algo de novo. Mais uma ânsia, uma procura, um grito abafado que propriamente uma realização. Ainda com timidez, eles intentavam caminhos alternativos:

Há uma gota de sangue em cada poema
Mário de Andrade
Nós - Guilherme de Almeida

Cinzas das horas - Manuel Bandeira













Juca Mulato - Menotti del Picchia















As esculturas de Brecheret
Em 1920, os jovens paulistas descobrem as esculturas de Brecheret. Impregnadas de modernidade, constituirão uma das bandeiras da Semana, pois Brecheret fora contratado para realizar o Monumento às Bandeiras e ao apresentar às autoridades as maquetes da obra, tivera o trabalho recusado. Anos depois, o monumento seria erigido, tornando-se um símbolo de São Paulo e a escultura pública mais admirada no país.
Mas, naquele instante, o caso Brecheret fornece munição à rebeldia estética que germinava na capital paulista. Ou como diria Menotti del Picchia: "Foi sua arte magnífica que abriu os nossos cérebros, (...) criado entre nós uma arte forte, liberta, espontânea."

A Semana de Arte Moderna


Finalmente, em fevereiro de 1922, realiza-se em São Paulo a Semana de Arte Moderna. O objetivo dos organizadores era acima de tudo a destruição das velhas formas artísticas na literatura, música e artes plásticas. Paralelamente, procuravam apresentar e afirmar os princípios da chamada arte moderna, ainda que eles mesmos estivessem confusos a respeito de seus projetos artísticos. Oswald de Andrade sintetiza o clima da época ao afirmar: "Não sabemos o que queremos. Mas sabemos o que não queremos." A proposição de uma semana (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem geral da prática modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições, leituras, etc.
O Teatro Municipal foi alugado.
Toda uma atmosfera de provocação se estabeleceu nos círculos letrados da capital paulista. Havia dois partidos na cidade: o dos futuristas e o dos passadistas.
Desde a abertura da Semana, com a conferência equivocada de Graça Aranha: A emoção estética na Arte Moderna, até a leitura de trechos vanguardistas por Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e outros, o público se manifestaria por apupos e aplausos fortes.
Porém, o momento mais sensacional da Semana ocorre na segunda noite, quando Ronald de Carvalho lê um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde: Os sapos. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. Este reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão.
Mas, metaforicamente, com sua iconoclastia pesada, o poema delimita o fim de uma época cultural:
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra - Não foi! - Foi! - Não foi!'
O sapo-tanoeiro Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro É bem martelado*.'
Vede como primo Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos.
O meu verso é bom Frumento* sem joio.
Faço rimas com Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos A formas a forma.
Clame a sapataria Em críticas céticas:
'Não há mais poesia, Mas há artes poéticas...'
Brada de um assomo O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como Lavor de Joalheiro'
Urra o sapo-boi:- Meu pai foi rei- Foi!- Não foi! - Foi! - Não foi!'


Principais participantes da Semana

Literatura: Mário de Andrade
Oswald de Andrade
Graça Aranha
Ronald de Carvalho
Menotti del Picchia
Guilherme de Almeida
Sérgio Milliett

Música e Artes Plásticas:
Anita Malfatti
Di Cavalcanti
Santa Rosa
Villa-Lobos
Guiomar Novaes

A importância estética da Semana
Se a Semana é realizada por jovens inexperientes, sob o domínio de doutrinas européias nem sempre bem assimiladas, conforme acentuam alguns críticos, ela significa também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo musical e o parnasianismo literário esboroam-se por inteiro. Ela cumpre assim a função de qualquer vanguarda: exterminar o passado e limpar o terreno.
É possível, por outro lado, que a Semana não tenha se convertido no fato mais importante da cultura brasileira, como queriam muitos de seus integrantes. Há dentro dela, e no período que a sucede imediatamente (1922-1930), certa destrutividade gratuita, certo cabotinismo*, certa ironia superficial e enorme confusão no plano das idéias..
Mário de Andrade dirá mais tarde que faltou aos modernistas de 22 um maior empenho social, uma maior impregnação "com a angústia do tempo". Com efeito, os autores que organizaram a Semana colocaram a renovação estética acima de outras preocupações importantes. As questões da arte são sempre remetidas para a esfera técnica e para os problemas da linguagem e da expressão. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado. De qualquer maneira, a rebelião modernista destrói o imobilismo cultural - que entravava as criações mais revolucionárias e complexas - e instaura o império da experimentação, algo de indispensável para a fundação de uma arte verdadeiramente nacional.
Caberia ainda ao próprio Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:
A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.
A atualização intelectual com as vanguardas européias.
O direito permanente de pesquisa e criação estética.

A revolução estética

A crítica de Lobato serviu como elemento catalisador para eles. Pensaram, então, em aglutinar forças e marcar presença através de um ato espetacular. A revolução estética que anunciavam merecia algo apoteótico. Aproximava-se o ano de 1922, o ano do centenário da Independência brasileira: era o momento ideal! Como quase todos os integrantes do movimento modernista eram filhos do patriciado paulista, não tiveram dificuldade em obter a adesão de Paulo Prado, curador do Teatro Municipal de São Paulo, que também providenciou os recursos. O prédio tinham um poderoso valor simbólico. Majestoso, imponente, acolhedor dos espetáculos do mundo cosmopolita, ele dominava os altos do Vale do Anhangabaú, da mesma forma que a elite quatrocentona via-se a cavaleiro da sociedade da época. Era, pois, o local ideal para fazer-se um escândalo. Dos dias 11 a 17 de fevereiro, os modernistas promoveram conferências sobre a nova estética entremeadas de recitais, de música ou leitura de algumas obras. No saguão, alguns pintores e escultores espalharam seus trabalhos. A platéia foi à loucura: urravam, guinchavam, pateavam, silvavam, vaiavam de enrouquecer para mostrar seu desagrado com aquilo tudo. Não permitiram que se escutasse nenhuma frase do que Oswald disse. Com Villa Lobos não foi diferente. Tendo adentrado no palco com sandálias, pensaram que era uma pantomima do músico e ficaram quase histéricos. Na verdade, o jovem Villa Lobos havia machucado o pé. Como resumo desse espírito de irreverência, Mário de Andrade deixou os versos:


Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

(Mário de Andrade)

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Mário e Oswald de Andrade (retratos de Tarsila do Amaral)

Uma cerimônia crismática


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Cartaz do Teatro Municipal


Uns tempos depois, passado o vendaval, Yan de Almeida Prado disse que tudo não passou de um estudantada, uma brincadeira de rapazes para quebrar o marasmo cultural da paroquiana São Paulo dos anos vinte. Mas é claro que não se reduziu a isso. Para alguns críticos, a Semana, além de fazer com que as bandeiras modernistas se tornassem hegemônicas sobre o restante do país, foi uma vigorosa tentativa da intelectualidade paulista de vir a liderar a cultura brasileira, adiantando-se, seqüestrando do Rio de Janeiro a primazia de estar à frente das coisas. A Paulicéia começara a se projetar como poderoso centro industrial impulsionado por uma burguesia de imigrantes, o que levou aos filhos do patriciado, reagindo, a ambicionarem ir além , tornando-se a vanguardeira das artes e do pensamento em geral. Para Silviano Santiago (O Crisma Modernista, Revista Bravo, n.º 53), a Semana foi também uma cerimônia crismática, na qual a cultura brasileira inseriu a nação definitivamente na cultura ocidental.

O rompimento com o formalismo


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Figuras populares nas telas de
Di Cavalcanti


Mas afora essas interpretações - entre as quais dela ser apenas mais um ato na longa novela de rivalidades entre paulistas e cariocas -, aceita-se hoje que a Semana da Arte Moderna de 1922 marcou um rompimento definitivo com a arte acadêmica e com a neocolonizada prosa parnasiana, então predominante. Estilo que, na oratória, teve em Ruy Barbosa, o seu nome mais expressivo. Depois dela, da sua revolução estética, a maneira anterior de escrever, pintar e compor tornou-se intragável e forçou a adoção, tanto na poesia como na prosa, de uma linguagem solta, ausente de formalismos, afastada da pedanteria e dos barroquismos que eram tão comuns nas letras nacionais. Não conseguiu, porém, fazer com que o grande público aderisse com entusiasmo às novas formas de expressão estética, aliás como bem poucas vanguardas espalhadas pelos mundo o fizeram. No século XX, os artistas foram lançados num limbo de incompreensão, situação rara de encontrar-se em qualquer outro momento da história da estética.

O biscoito fino


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As massas rejeitaram o biscoito fino que Oswald queria-lhes oferecer (tela de Tarsila do Amaral)

Prova disso, dessa desassociação do artista com seu público, é que a prosa dos autores modernistas como Mário e Oswald de Andrade são, em quase sua totalidade, ilegíveis. Portanto, a pretensão de Oswald, que previa que algum dia "a massa ainda comerá do biscoito fino que fabrico", não se realizou. Na poesia, com seu verso sem rima nem metro, com a consagração que tiveram mais tarde Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira, tal problema não se configurou da mesma maneira, exceção ao movimento concretista dos anos 50, excessivamente cerebral, que não conseguiu conquistar os favores do público.

Para os intelectuais em geral - exceção feita ao grupo regionalista de Pernambuco, liderada por Gilberto Freyre, e o de São Paulo, tendo à frente Monteiro Lobato -, a Semana da Arte Moderna serviu como uma redescoberta estética do Brasil, mostrando-o fruto de uma cultura mestiça, vacilando sempre entre a rusticidade e a civilização, em perpétuas dúvidas hamletianas sobre ser ou não ser do Terceiro Mundo.

A Semana e a realidade brasileira
A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922.
Embora as aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo artístico, fosse no campo político.
Um dos equívocos mais freqüentes das análises da Semana consiste em identificá-la com os valores de uma classe média emergente. Ela foi patrocinada pela elite agrária paulista. E os princípios nela expostos adaptavam-se às necessidades da refinada oligarquia do café. Uma oligarquia cosmopolita, cujos filhos estudavam na Europa e lá entravam em contato com o "moderno". Uma oligarquia desejosa de se diferenciar culturalmente dos grupos sociais. Enfim, uma classe que encontrava no jogo europeísmo (adoção do "último grito" europeu) - primitivismo (valorização das origens nacionais) - que marcaria a primeira fase modernista - a expressão contraditória de suas aspirações ideológicas.
Outro equívoco é considerar o movimento como essencialmente antiburguês. O poema Ode ao burguês, de Mário de Andrade, e alguns escritos de outros participantes da Semana podem levar a esta conclusão. Mas não esqueçamos que a burguesia rural, vinculada ao café, apoiou os jovens renovadores. E, além disso, toda crítica dirigia-se a um tipo de burguesia urbana, composta geralmente de imigrantes, inculta, limitada em seus projetos, sem grandeza histórica, ao contrário das camadas cafeicultoras, cujo nível de refinamento cultural e social era muito maior.
Neste caso, os modernistas se comportam como aqueles velhos aristocratas que menosprezam a mediocridade dos "novos-ricos". No início da década de 30, Oswald de Andrade já perceberia o quão contraditória era a sua crítica ao universo das classes citadinas. Daí o prefácio do romance Serafim Ponte Grande, em 1933.
A situação "revolucionária" desta bosta mental sul-americana, apresentava-se assim: o contrário do burguês não era o proletário - era o boêmio! As massas, ignoradas no território e como hoje, sob a completa devassidão econômica dos políticos e dos ricos. Os intelectuais brincando de roda.
* Iconoclasta: destruidor de ícones, de valores consagrados.* Enfunando: inflando.* Martelado: alusão ao martelo do escultor, com quem o poeta parnasiano se comparava.* Frumento: o melhor trigo.* Cognatos: que tem a mesma raíz.

O MODERNISMO DE 22 A 30(FASE DE DESTRUIÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO)

O projeto dos modernistas de São Paulo pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam e confundem :

- DESINTEGRAÇÃO DA LINGUAGEM TRADICIONAL
Questiona-se toda a arte acadêmica, com suas fórmulas envelhecidas, a expressão gasta, a linguagem convertida em clichês. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, a piada, o sarcasmo. Os romances Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, levam essa prática às últimas conseqüências.
- ADOÇÃO DAS CONQUISTAS DAS VANGUARDAS
A liberdade de expressão, a visão amorosa e crítica do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações desenvolvidas pelas vanguardas européias são assimiladas, ainda que desordenadamente pela geração de 22.

A revista Klaxon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a contemporaneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus. A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.
- BUSCA DA EXPRESSÃO NACIONAL
Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem expressar toda a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, Oswald se interroga: "E nós, os brasileiros? Quem seríamos? Qual o nosso retrato? Alguma arte nos representaria tão significativamente como aquelas máscaras?"
Atrás dessas perguntas, começava a delinear-se a luta por um abrasileiramento temático. O nacionalismo surge no horizonte do grupo modernista apenas em 1924. Antes, as questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser ideológicas: vai se discutir o nacional e o popular em nossa literatura. Sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.
A saída primitivista
Não se processa, contudo, a volta ao ufanismo romântico. O novo nacionalismo irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado, como se o país causasse no artista uma mistura de orgulho e deboche. O caminho é a celebração do primitivismo, isto é, de nossas origens indígenas e extra-européias. Nas civilizações aborígenes e também no folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura popular, quer se descobrir a essência do Brasil.
É uma espécie de retorno às fontes primeiras de uma civilização original. Para ali encontrar algo que o colonialismo português não conseguira esmagar: a ausência de repressões morais e sexuais, e a alegria de viver, sobremodo entre os índios. Esta pesquisa de uma subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o instrumental artístico da modernidade. Por isso, os antigos habitantes não deveriam merecer análises antropológicas ou preservacionistas, e sim um registro ousado, inventivo e até humorístico, com a linguagem das vanguardas. Aliás, o Brasil seria esta síntese do primitivo e do inovador.
Quase todos os criadores da primeira fase vivem a dimensão primitivista. Porém, cometem o erro de considerar o Brasil como unidade e não como diversidade social. A "síntese brasileira" não existia no plano histórico e não poderia ocorrer no plano artístico. Apropriam-se assim da mitologia do povo, das tradições dos índios, etc., sem mostrar como essas realidades culturais haviam se gerado e sobrevivido. Procuravam mais uma simbologia para a nacionalização da arte do que verdades humanas e históricas oferecidas pelos valores populares ou indígenas.
Entre os próprios modernistas não houve acordo quanto ao rumo a seguir. Formaram-se vários grupos, proclamaram-se muitos movimentos, todos insistindo em sua autenticidade nacionalista. As mais significativas dessas tendências foram o Pau-Brasil e a Antropofagia, ambas criadas por Oswald de Andrade.

O MODERNISMO DE 22 A 30(FASE DE DESTRUIÇÃO E EXPERIMENTAÇÃO)
BUSCA DA EXPRESSÃO NACIONAL
A saída primitivista
OS MOVIMENTOS PRIMITIVISTAS
Pau-Brasil:

Lançado em março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como idéias-chave: - A junção do moderno e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos astéticos (...) obuses de elevadores, cubos de arranha-céu e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar. Pau-Brasil."
- A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar difícil."
- A luta por uma nova linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...) Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa."
- A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e ingênuo das camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. A formação étnica rica. Riqueza vegetal."
Exemplo do conjunto da visão oswaldiana, na época, encontra-se em erro de português (1925):
Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena!Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português
Observe-se no poema, além do verso livre, da ausência de pontuação, e da dicção humorística, o contraste que o autor estabelece entre a natureza européia, marcada pelo frio e pela chuva, com a tropical, marcada pelo sol; entre o português que veste o índio com seus valores repressivos e o índio que poderia ter despido o português desses mesmos valores, tendo a locução interjetiva "Que pena!" como indicadora da posição do poeta perante os fatos.

Antropofagia:

O manifesto antropofágico, lançado em 1928, amplia as idéias do Pau-Brasil, através dos seguintes elementos:
- A insistência radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is the question".
- O humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove".
- A criação de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem repressões: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama." - A postura antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e a pura cópia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...) Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."
Curiosamente, Oswald de Andrade não produz nenhuma obra ficcional ou poética dentro do espírito antropofágico (a não ser, talvez, a peça Rei da vela). Caberia a Mário de Andrade, com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a tentativa de levar para o espaço da criação literária as idéias do Manifesto.
Nos anos de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporação de elementos da música pop internacional à música brasileira.
Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928):
Com a participação de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências opõem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos" através do reforço do "sentido de brasilidade" e de uma tendência conservadora e direitista no plano social.







Fonte: http://educaterra.terra.com.br/literatura/modernismo/modernismo_18.htm

DE NICOLA, José – Literatura Brasileira, das Origens aos Nossos Dias.

15ª ed. São Paulo: Scipione, 1998 – págs.272 a 318

INFANTE, Ulisses – Curso de Literatura de Língua Portuguesa:

volume único: ensino médio – 1ª ed. São Paulo: Scipione, 2001 – págs. 428 a 474

OLIVEIRA, Clenir Belleze de - Arte Literária: Portugal/Brasil São Paulo:

Moderna 1999 - págs. 416 a 477