sábado, 10 de outubro de 2009

Semana de Arte Moderna em 1922 e seus antecedentes
por Raul Mendes Silva
INTRODUÇÃO
As duas primeiras décadas do século XX vinham criando entre os intelectuais a insatisfação com os rumos da arte brasileira, amarrada na tradição acadêmica. A Escola Nacional de Belas Artes, denominação que em 1890 sucedera à Academia Imperial, parecia não ter resultado numa efetiva renovação do ensino das artes plásticas no Brasil, apesar das tentativas do primeiro diretor dos tempos republicanos, Rodolfo Bern
ardelli. Os tempos haviam mudado e uma camada mais ampla da população tinha acesso às novidades do exterior. Em primeiro lugar, os membros das elites brasileiras viajavam muito, sobretudo para Paris, e verificavam o descompasso entre as artes (em nosso foco a pintura) européias e a atitude dos artistas nacionais. Em segundo lugar, a República Velha continuava governando a partir do Rio de Janeiro, como havia acontecido durante todo o Império. Os rumos da economia, porém, tinham sido atrelados à exportação do café e ao desenvolvimento das exportações de outros produtos. O eixo econômico havia-se deslocado da depauperada ex-capital do Império para a futura “locomotiva” econômica do país, São Paulo.

Lasar Segall (1891- 1957) Paisagem brasileira, Museu Lasar Segall, São Paulo



A imigração européia e asiática trazia vastos contingentes de trabalhadores politizados, muitos anarquistas e socialistas, que saíam de seus países para tentar a utopia e a sorte no Novo Continente, que lhes parecia a “Terra da Promissão”. Não podemos esquecer que a Europa, assolada por guerras contínuas e ditaduras, tornara-se um barril de pólvora pronto a explodir a qualquer momento – como aconteceu na Primeira Guerra (1914- 18). “...Não há condições de entender o advento do modernismo brasileiro sem se referir à sua capital, São Paulo. A cidade recebe a maior riqueza do país, o café, cultivado sobretudo no interior do Estado e remetido ao porto mais próximo, Santos. Para dar conta do ímpeto monocultor, o governo estimula a imigração no início do século. Forma-se o mosaico de povos: italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, eslavos, sírio-libaneses, japoneses...São Paulo desbanca definitivamente o Rio. Nesse momento, vanguarda artística co
incide com vanguarda econômica, modernização, com modernismo. (Nelson Aguillar, As Fronteiras da Modernidade, in Arte Moderna, Fundação Bienal de São Paulo, 2000, pág. 38).






Anita Malfatti (1889-1964) A ventania, Palácio dos Bandeirantes,SP


Estas transformações sociais receberam também forte impacto das modificações políticas no exterior. A Primeira Guerra Mundial (1914-18) tinha influído em nossa economia e muito na indústria. A oligarquia de origem rural, que se mantivera no poder desde o Império e atravessara incólume os inícios da República Velha, começava a ser questionada mais objetivamente. Os estados sulistas tinham recebido grandes contingentes de imigrantes qualificados e politizados e ali a insatisfação era maior.
1922 é um ano emblemático, precisamente o centenário da Independência. Os integrantes da Semana e os modernistas não afirmavam que tinham fundado uma Escola, um movimento harmônico ou integrado. Desejavam libertar-se emocionalmente, fugir dos cânones do academicismo para se expressar livremente. Tinham também consciência de que não adiantaria chamar algo de “modernista” se com isso apenas se modificassem aspetos formais. Por exemplo, se um artista de espírito acadêmico, naturalista, romântico ou simbolista, começasse a pintar formalmente à maneira expressionista, esse caminho não levaria a modificação cultural alguma. O que era necessário era uma renovação profunda, nacional, patriótica, ciosa dos valores nacionais – e neste sentido o coroamento dos objetivos modernistas nos leva até Di Cavalcanti e Portinari.
Tarsila do Amaral (1886-1973) EFCB,Museu de Arte Contemporânea da USP
Havia em primeiro lugar a consciência de que algo precisava ser feito e que já tinha começado, e nesse sentido era um movimento; propunha-se uma estética de renovação. O Modernismo começou em 1922, teria uma fase de maturação até o início da década de 30 e ainda se prolongaria aproximadamente até 1945.
Uma exposição recente, no Paço Imperial do Rio (Quando o Rio Era Moderno, 2000) mostrou que na ex-capital do Império também havia manifestações modernistas mesmo antes da Semana de 1922 – principalmente na arquitetura, pela ação do prefeito Pereira Passos – mas a definição dos rumos do Modernismo foi mesmo na capital paulista.

Di Cavalcanti, Cinco Moças deGuaratinguetá, Museu de Arte deSP Assis Chateaubriand

Fonte: http://www.raulmendesilva.pro.br/semana_arte.shtml

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